A relação parecia óbvia: contraiu? Agora, alongue. Mas como quase nada no funcionamento do corpo é assim tão simples, a corda começou a esticar para os defensores da causa.
Nos últimos anos, surgiram estudos mostrando que se alongar antes do exercício, além de não prevenir lesões, eleva o risco de que ocorram.
A notícia agradou a turma que já não gostava muito da prática, mas se sentia culpada por deixar de fazer algo tão recomendável para um treino saudável. E não convenceu os fiéis defensores do estiramento muscular.
Para complicar a vida de quem busca uma regra clara -alongar ou não- a última grande pesquisa sobre o tema chegou à decepcionante conclusão que... tanto faz!
O maior estudo sobre alongamento feito até hoje, envolvendo 1.400 pessoas de
Feita pela organização governamental norte-americana para corrida e caminhada Track and Field, a pesquisa foi um balde de água fria para as correntes pró e contra alongamento. Ele nem previne nem induz lesões, afirmam os autores do trabalho.
O mais chato é que, nesse estica e puxa entre entusiastas e críticos do alongamento, o cidadão que quer simplesmente se exercitar da forma mais adequada possível fica sem saber o que fazer.
"Concluir que o alongamento não serve para nada não é o caminho", afirma Mauro Guiselini, mestre em educação física pela USP e especialista em biomecânica do treino de resistência pelo Cooper Institute, dos EUA.
Para Guiselini, o problema é que muitos atribuem à prática uma finalidade para a qual ela não foi construída. "As pessoas usam como se fosse o aquecimento para a atividade física, mas é no máximo uma parte dele, e com efeito muito pequeno."
POSTURA
A ideia de que os exercícios deixarão os músculos mais alongados também é inexata. "O alongamento serve para manter o comprimento fisiológico [normal] do músculo, não vai deixá-lo mais comprido do que é", diz o fisioterapeuta Victor Liggieri, autor de "De Olho na Postura" (ed. Summus).
O treinador da clínica Força Dinâmica Luiz Fernando Alves, formado em esportes pela USP e especializado em dor crônica e prevenção de lesões, reforça que não há consenso sobre o papel do alongamento ou se deve ser feito antes ou após o treino.
"Enquanto a ciência não nos dá a luz, o que é possível fazer é identificar a necessidade de cada pessoa e observar a postura certa durante a execução de qualquer exercício."
A organização postural também é a resposta para a educadora física Christina Ribeiro, coautora do livro sobre postura.
"Dependendo da forma como é feito, o alongamento pode prevenir lesão ou acentuar um problema preexistente."
Foi o que aconteceu com o psicanalista Daniel Kauffmann, 34. Corredor amador, ele treinava cinco vezes por semana, orientado por uma assessoria de corrida. Fazia tudo direitinho, inclusive a sequência clássica de alongamentos para corrida.
"O erro é usar o mesmo tipo de alongamento para todo mundo. No meu caso, os alongamentos sobrecarregavam o que estava mais frágil. Achava que estava fazendo para prevenir a dor e era o que mais me prejudicava."
Seu problema é o encurtamento da musculatura posterior (do pescoço ao tornozelo) que, com a repetição de gestos e posturas erradas, gerou uma hérnia de disco.
Hoje, ele faz um trabalho corporal que incluiu fisioterapia e reeducação da postura e dos movimentos.
Sua irmã, a consultora de moda Carol Kauffmann, 36, tem história parecida. Também praticante de corrida, fazia o alongamento de praxe, mas isso não preveniu as lesões na tíbia e no pé.
"Eu precisava de um trabalho específico para meu tipo de pisada. Os alongamentos não ajudavam em nada."
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